Total de visualizações de página

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

VIOLÊNCIA PÚBLICA E INSEGURANÇA PRIVADA


"O Rio de Janeiro está em conflito. Desde o domingo 21, a capital e a Baixada Fluminense são palcos de arrastões, carros incinerados e quartel policial fuzilado. As autoridades públicas dizem ser reação à implantação das Unidades Policias Pacificadoras (UPPs) em áreas dominadas pelo tráfico. Para mostrar serviço, mandaram nesta terça-feira 23 todo o contingente das polícias militar e civil às ruas para achar os culpados. O resultado: em poucas horas, foram 11 presos e um morto. Ação digna de capitão Nascimento, para a alegria de uma parcela da população.
Para o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol), o responsável pela instauração da CPI das Milícias, cabe ao serviço de inteligência da polícia carioca descobrir como – e se – os ataques foram orquestrados. O deputado critica a postura do governador Sérgio Cabral, que estaria mais preocupado com a sua imagem do que com a segurança pública."
(http://www.cartacapital.com.br/politica/violencia-no-rio-de-janeiro-e-caso-de-servico-de-inteligencia-nao-apenas-de-policia) Trecho de reportagem da versão on line da revista Carta capital do dia 24 de novembro de 2010.


Bem, segundo o deputado, os ataques orquestrados pelos narcotraficantes fluminenses merecem uma investigação mais apurada, sobretudo pelo serviço de inteligência, antes de serem classificados como um evento planejado e organizado.
Sob um certo ponto de vista, até coaduno com a opinião do deputado. Entretanto, também tenho lá minhas dúvidas acerca do potencial e da capacidade que os marginais cariocas têm para praticar tais eventos.
Nossos meliantes já mostraram em várias oportunidades o seu despreparo, sua falta de organização e sua precária logística e operacionalidade. Quando as milícias quiseram, invadiram, expulsaram e se apoderaram das comunidades tomadas pelos traficantes com uma facilidade clamorosa, quase como tomar um doce da mão de uma criança indefesa. Depois, veio o Estado e sua polícia mal paga e  mal educada, também invadindo, expulsando e se apoderando de outras 14 comunidades "dominadas" pelos traficantes. E o que els fizeram? Fugiram! Sem resistência alguma. Agora, os traficantes tomaram coragem e se organizaram para dar o troco? Troco em quem? Para quê? Com que propósito? Afrontar, amedrontar e pressionar o Estado? Faz-me rir! Se o Estado quiser, através de suas instituições de repressão, esmaga esse punhado de meninos mal educados, alguns mal alimentados e ainda sem treinamento específico para manusear sua força bélica. Seria um massacre sem precedentes em nossa história recente. Mas a quem interessaria isso? Onde se extorquiria sem a fiscalização da sociedade? Onde se cultivaria o balaio de pavor necessário para intimidar o cidadão e mantê-lo sob sua tutela? Não há interesse institucional em acabar com os pobres meninos traficantes de nossas carca de 500 comunidades.

As UPPs serviram bem ao seu propósito de propaganda eleitoral, reelegeram o governador do estado em primeiro turno, com margem oceânica de votos em relação ao seu principal adversário e ainda desprezando descaradamente assuntos como educação e saúde. Agora, o governador precisa justificar essa farsa. Precisa transformá-la em algo concreto, tirá-la do campo da encenação eleitoral e introduzi-la de fato na realidade institucional. A milícia do governo têm que dar certo. E nada mais conveniente que um show, um evento, um espetáculo pirotécnico, literalmente!
É engraçado como que em outros lugares, quando os personagens ilícitos e violentos se sentem realmente prejudicados e ameaçados, se desesperam e partem para o ataque. Assim foi na Itália, que nos anos 80's e 90's combateu a máfia como nunca fora feito e essa máfia reagiu explodindo carro de autoridades, metralhando juízes e assassinando promotores. Mais recentemente, no México, os narcotraficantes, sentindo-se perseguidos, assassinaram delegados, promotores e até prefeitos. Nem precisamos ir tão longe, em São Paulo, o PCC também, sentindo-se pressionado, desferiu vários ataques contra a polícia. Mas afinal, o que é tão engraçado nisso tudo? É que aqui no Rio, como os meliantes respeitam as autoridades! Promotores, juízes, políticos, chefes de polícia e secretários de segurança não sentem nem o cheiro de queimado, muito menos escutam quaisquer barulho de tiro. Pior! Ainda aparecem na televisão ou falam nas rádios orientando que a população deve manter a calma e que não altere a sua rotina. O governador, em entrevista à rádio Band News FM na tarde desta quarta feira (24/11/2010), disse a seguinte preciosidade: "Há muita transpiração, cerca de 90%, e pouca inspiração, cerca de 10%", ao tratar do assunto acerca de 29 automóveis serem incendiados pela região metropolitana até aquela hora da entrevista. Nosso governador é ou não é um FANFARRÃO? Usando a sua lógica matemática, gostaria que o entrevistador perguntasse se o cidadão que teve o seu automóvel incendiado ou aquele que passou pelo desconforto de se ver em um veículo público prestes a ser incendiado estava realmente 90% transpirando e apenas 10% inspirado! Ou então, que até aquele momento, dos 29 automóveis incendiados, apenas cerca de 3 realmente pegaram fogo e os outros 23 eram pura transpiração! Fala sério governador, fanfarra e deboche têm lá os seus limites.
Não acredito que toda essa celeuma, todo esse quiprocó seja apenas obra dos meninos traficantes e mal educados da comunidade, mesmo orientados por aqueles que, de tão espertos estão trancafiados em presídios de segurança máxima. Parafraseando o presidente Lula, estou convencido de que isso tem um dedo cheio de anéis de bacharel, tem gente mais graúda por de trás disso. E pra quem acha que estou sendo conspirador demais, é só lembrar do que o Brasil já foi capaz na época dos governos militares, até bomba no Rio Centro explodiu no colo de milico desajeitado. Quem mesmo que era pra levar a culpa? Qual era mesmo a intenção? Naquela época o Estado ainda usava os milicos rasos pra fazerem o trabalho sujo. Hoje, não precisam sujar as mãos, têm os valiosíssimos inimigos da sociedade, em cativeiros de segurança máxima, para transcreverem as ordens e os meninos mal educados que carregam fuzis nas comunidades para executarem a sujeira da farsa do Estado.
O sargento do Exército morto na explosão acidental da bomba que seria detonada na comemoração do 1° de maio de 1981 no Rio Centro

Pobre é a população, que paga o pato de votar mal e de se iludir com qualquer proposta de salvação milagrosa. Homens honestos, trabalhadores e humildes, além dos intelectuais vaidosos, autistas e ingênuos, sofrem do respingo desse caldo funesto, sujo e mentiroso chamado de política pública.
Oferecem-nos esse projeto de violência pública e nos impõem essa sensação de insegurança privada. Assim, acuados, somos presas fáceis para a manipulação demoníaca, debochada e imoral praticada por esse Estado de Canalhas.
Os efeitos previstos já estão em curso, a população intimidada e desesperada urge para que as instituições atuem, do modo como elas bem entenderem e que, uma vez "resolvido" o problema, os mesmos canalhas de sempre sairão como os verdadeiros heróis da nação! E assim caminha a nossa sociedade.
Até quando seremos otários, ingênuos e pueris o bastante para cairmos nesse golpe? Até quando nos colocarão e os nossos entes em risco para ratificarem essa farsa institucionalizada? Até quando veremos pouco além de meio palmo do nosso nariz e nos permitiremos isso tudo?

Talvez dias melhores virão, mas para tal, teremos que abrir os olhos e deixarmos o filtro do romantismo e da superficialidade na lembrança de nossa adolescência, amadurecer como sociedade e como povo.
Concordo com o deputado Marcelo Freixo, quanto à necessidade de uma investigação séria e inteligente sobre esses eventos para podermos analisá-los com maior precisão. Todavia, recordando o passado do Brasil de Vargas e do governo militar, inclino-me a suspeitar de tudo e de todos. O cheiro de esterco e a aparência de pus, típicos de quem aprendeu bem como intimidar e manipular através de práticas aterrorizantes, sugerem que há gente de terno e gravata, e não de celular pré pago e fuzil, por de trás disso tudo.



Jornal Hoje 25-12-2010 Vila Cruzeiro Penha Invasão de Favela no Rio de Janeiro (em 7 partes):

Nenhum comentário:

Postar um comentário